INTERNACIONAL
Rei Charles III é coroado na Abadia de Westminster; acompanhe
O atual monarca é o herdeiro do trono britânico que mais esperou para ser coroado na história do Reino Unido.
Uma nova era se inicia no Reino Unido neste sábado (6/5): o rei Charles III foi coroado após 70 anos de espera. O monarca chega ao poder com o desafio de manter uma instituição milenar alinhada com os tempos modernos.
O monarca e a rainha Camilla entraram na Abadia de Westminster pontualmente às 7h. O percurso entre o Palácio de Buckingham e a igreja demorou 40 minutos. O casal completou o trajeto dentro da Carruagem de Estado do Jubileu de Diamante.
Após a Procissão do Rei e da Rainha pelas ruas de Londres, começou um novo cortejo até o altar da abadia. Líderes e representantes religiosos entraram na frente e depois os primeiros-ministros ou governadores-gerais dos reinos de Charles III. O primeiro-ministro inglês, Rishi Sunak, fez o cortejo ao lado de sua esposa, Akshata Murty.
Eles foram seguidos pela procissão composta por duques, marqueses e condes. O grupo carregou os símbolos importantes para os reinos e também as regalias usadas na cerimônia: coroas, cetros, hastes, orbe, espadas, esporas e anéis. Os itens simbolizam o serviço e as responsabilidades do monarca. O general Gordon Messenger entrou na Abadia de Westminster segurando a coroa St Edward, a mais importante da cerimônia.
Charles e Camilla cruzaram a abadia usando capas de Estado. O atual monarca escolheu a mesma peça confeccionada para o coroação de seu avô, o rei George VI, em 1937. O item usado por Camilla foi originalmente criado para a coroação da rainha Elizabeth II, em 1953. A capa precisou de alguns leves ajustes e consertos para ser desfilada novamente.
O casal escolheu seus respectivos netos para segurarem a capa na entrada da abadia. O príncipe George, o terceiro na linha de sucessão, entrou na igreja atrás do rei. É a primeira vez que um herdeiro do trono britânico que ainda é criança teve um papel tão importante em uma coroação. Charles tinha apenas 4 anos, em 1953, quando a mãe ascendeu ao trono mas não assistiu à cerimônia completa na Abadia de Westminster, e Elizabeth, que tinha 11 anos em 1937, participou apenas como ouvinte da investidura do pai.
O rei e a rainha começaram a cerimônia sentados nos Tronos de Estado. As peças foram confeccionadas para a coroação da rainha Elizabeth, em 1953. Artesãos restauraram os móveis para serem usados por Charles e Camilla: eles retiraram a madeira na base com as iniciais de Elizabeth e bordaram o brasão do atual monarca no veludo do encosto.
Após o casal se sentar, o arcebispo de Canterbury anunciou a presença do rei para a congregação. Depois de orações e cantos, Charles leu um juramento para os presentes e prometeu servir ao povo do Reino Unido.
A parte mais importante da cerimônia é chamada de “A Unção”. O deão de Westminster derramou na Colher da Coroação o óleo sagrado guardado na Ampola Real. A unção de Charles foi reservada. Esse é considerado o momento sagrado entre o monarca e Deus, por isso, um dossel escondeu o soberano dos presentes e das câmeras para preservar a santidade do gesto. No momento secreto, o arcebispo passou o líquido nas mãos, peitos e cabeça do monarca enquanto fez uma oração.
O painel escolhido para proteger Charles durante o ato foi criado pelo artista Aidan Hart. O desenho central é uma árvore e cada folha representa os 56 países que fazem parte do Commonwealth. O cifrão do rei está posicionado no pé do tronco e simboliza o papel do monarca em servir o seu povo. O design escolhido pelo rei é inspirado nos vitrais da Capela Real do Palácio de St James.
Durante a cerimônia, os três lados do dossel foram segurados por militares que fazem parte da segurança do rei Charles e por membros das guardas dos países do Reino Unido.
Depois da unção, aconteceu a cerimônia de investidura. O arcebispo de Canterbury oferece as regalias ao monarca que, em seguida, são posicionadas em cima do altar. Antes de começar o rito, Charles veste o Colobium Sindonis, uma túnica de linho branca. O rei escolheu a mesma peça do seu avô materno, o rei George VI. Por cima da camisola, o monarca colocou a Supertúnica Dourada, criada em 1911 para a coroação do rei George V.
Para adornar as vestes, Charles escolheu o Cinto da Coroação – também usado pelo seu avô materno – para guardar a Espada do Monarca, que representa a proteção dos bons e a punição do mal.
Em um momento esperado da cerimônia, William, o príncipe de Gales, ajudou o pai a se vestir com o Manto Imperial, costurado em 1821 para a coroção do rei George IV. Por fim, o rei vestiu a Luva da Coração na mão direita, a mesma usada por seu avô.
Durante a unção e a investidura, Charles vai sentou-se no Trono de St. Edward. A cadeira de 700 anos foi usada pela primeira vez na coroação do rei Edward II. A peça foi criada para guardar a Pedra da Coroação, que foi retirada da Escócia em 1296 e utilizada em 38 cerimônias do tipo.
O arcebispo, então, faz uma oração e coloca a coroa de St Edward na cabeça do rei. A joia pesa 2,07 kg e foi confeccionada para a coroação do rei Charles I, em 1661. Após o momento, todos gritaram: “Deus, salve o rei”. Os sinos da igreja vão tocaram por dois minutos e depois vai se escutou uma saudação de tiros de diversos regimentos militares diferentes.
Inovações
Charles começou a inovação em seu reinado durante o serviço de coroação. De acordo com o site oficial da família real, a cerimônia “irá refletir o papel do soberano nos dias de hoje e também vai olhar para o futuro, enquanto é enraizada em pompa e tradições milenares”.
O evento, que deve durar quatro horas, será mais curto e menos luxuoso que o da rainha Elizabeth II, em 1953. Comparado com a coroação da mãe de Charles, o Palácio de Buckinham diminuiu pela metade o número de convidados.
Receberam convites para o evento 2.200 pessoas, incluindo membros da família real, representantes de 203 países — sendo 100 chefes de Estado — e membros de instituições de caridade patrocinadas pelo rei.
A primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram algumas das pessoas presentes. Entre os famosos, estavam os cantores Lionel Richie e Katy Perry. O editor-chefe da Vogue Britânica, Edward Enninful, também prestigiou o evento.
O filho caçula do rei, o príncipe Harry, também está entre os convidados. Meghan Markle não acompanhou o marido, que deve participar apenas da cerimônia dentro da Abadia de Westminster. Nos últimos meses, o duque de Sussex lançou um livro e um documentário, além de ter dado uma série de entrevistas criticando o pai, Charles; a madrasta, Camilla; o irmão, William; e a cunhada, Catherine.
Em nome da sustentabilidade e dos “novos tempos”, o monarca e a rainha Camilla optaram ainda por usar joias, roupas e móveis confeccionados para a investidura dos seus antecessores com o objetivo de economizar e preservar o meio ambiente.
Além disso, o rei vai tentar mostrar durante a cerimônia uma monarquia mais diversa. Pela primeira vez na história, por exemplo, vão participam da coroação bispas e membros de outras religiões. O público presente também poderá fazer um juramento, antes dito apenas pelos duques. Alguns momentos considerados sagrados, como a unção da rainha consorte, serão televisionados de maneira inédita.
O monarca pediu ainda que a cerimônia seja realizada em outras línguas, não apenas em inglês. Passagens religiosas da cerimônia serão lidas em galês, gaélico escocês e gaélico irlandês. Charles enfrenta um crescente movimento republicano dentro do Reino Unido, principalmente na Irlanda do Norte.
O que está em jogo
O rei Charles III é coroado em meio a muita desconfiança, principalmente pela geração mais jovem. O monarca está sendo cobrado a reconhecer o papel da família real britânica na escravização de africanos e na colonização de centenas de países ao redor do mundo.
Ele também vai precisar se esforçar para manter os países da Commonwealth em seu reinado. Representantes da Jamaica, Austrália e Nova Zelândia já manifestaram interesse em retirar Charles do posto de chefe de Estado de seus países, e alguns primeiros-ministros e governadores-gerais devem convocar referendos sobre o assunto nos próximos anos.
Apesar das pressões, Charles está conseguindo espalhar o espírito monarquista pelo país durante a semana de coroação. As cidades do Reino Unido estão decoradas com bandeiras para a data, e as ruas de Londres estão tomadas de pessoas querendo ver o rei e a rainha durante as procissões. Com o objetivo de preparar os ingleses, o Palácio de Buckingham já divulgou a maioria dos detalhes da coroação do rei Charles III, que tem como base ritos milenares.
Fonte: Metrópoles
Foto: Reprodução