NACIONAL
Morre Delfim Netto, Ex-Ministro e Arquiteto do “Milagre Econômico”, aos 96 Anos
Antônio Delfim Netto, renomado economista e uma das figuras mais influentes durante a ditadura militar no Brasil, faleceu nesta segunda-feira (12), aos 96 anos. Delfim estava internado há uma semana no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações de saúde. Sua morte marca o fim de uma era, encerrando a trajetória de um dos personagens mais controversos da história econômica e política do país.
Delfim Netto foi o principal arquiteto do “milagre econômico brasileiro”, período entre 1968 e 1973, em que a economia cresceu, em média, 10,2% ao ano, atingindo um pico de 14% em 1973. Durante sua gestão à frente do Ministério da Fazenda (1967-1974), ele incentivou a expansão do agronegócio, da indústria e das grandes obras de infraestrutura, transformando o Brasil em uma potência emergente. No entanto, seu legado é marcado por ambiguidade: apesar do crescimento econômico, o período foi acompanhado por uma alta inflação e um significativo aumento da dívida externa, que saltou de US$ 3,2 bilhões em 1964 para US$ 105 bilhões em 1985.
Sua célebre frase, “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”, tornou-se um símbolo das críticas ao modelo econômico da ditadura, que resultou em crescimento concentrado e aumento da desigualdade social. A prometida partilha do “bolo” nunca se concretizou, deixando um legado de desequilíbrios que ainda persistem.
Além de sua contribuição econômica, Delfim Netto esteve envolvido em decisões políticas de extrema gravidade. Em 1968, foi um dos signatários do Ato Institucional nº 5 (AI-5), o mais severo decreto da ditadura, que suspendeu direitos civis, impôs censura, prendeu opositores e cassou mandatos políticos. Delfim nunca se arrependeu de sua participação na ditadura e, em 2013, afirmou que apoiaria novamente o AI-5 “se as condições fossem as mesmas”.
Apesar de sua ligação com os governos militares, Delfim manteve sua relevância política e econômica após o fim da ditadura. Ele foi deputado federal por duas décadas (1987-2007) e atuou como conselheiro informal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus dois primeiros mandatos. Contudo, sua carreira foi manchada por acusações de corrupção, como a revelada pela Operação Lava Jato em 2018, que apontou que Delfim teria recebido R$ 15 milhões em um esquema envolvendo contratos fictícios.
Delfim Netto deixa uma filha e um neto. O velório será fechado, restrito aos familiares. Sua morte encerra a vida de uma das figuras mais influentes e controversas da história recente do Brasil, cuja influência será lembrada tanto pelas conquistas quanto pelas cicatrizes deixadas.