AMAZONAS
Senadores do AM são contra a realização da Copa América no Brasil
Após o anúncio do Brasil como sede para a realização da Copa América de 2021, nesta segunda-feira (31), parlamentares e especialistas do país têm demonstrado reações negativas, principalmente ao governo federal. A decisão se deu pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), depois da desistência dos países vizinhos Argentina e Colômbia, que enfrentam a pandemia do coronavírus.
Para alguns, no entanto, o atual momento vivido pelo país pode não ser o ideal para mais aglomerações. Hoje, o Brasil soma mais de 460 mil mortes em decorrência da Covid-19.
Repercussão no Congresso
No Senado, o anúncio da Conmebol gerou repercussão entre os parlamentares. Nesta segunda-feira (31), o presidente da CPI, senador Omar Aziz (MDB), demonstrou descontentamento com o aval do governo federal à realização do evento.
“É sem lógica fazer um evento internacional. Não temos o que comemorar, e sim lamentar. Num primeiro momento, realmente temos a prática de campeonatos estaduais ao longo das semanas no país. Mas depois, ao fazer uma autocrítica e raciocinar, vamos comemorar o quê? Se o Brasil for campeão da Copa América, isso vai significar e mudar o quê, nesse momento?”, questionou o senador.
O senador Plínio Valério (PSDB) afirmou que, embora o Brasil seja considerado como o país do futebol, não vê condições da promoção de um evento dessa magnitude, porque, segundo ele, traz população.
“Isso porque, mesmo que apenas uma pessoa vá a óbito em decorrência da doença, isso já será considerado um prejuízo. A prioridade é o que recomendam os especialistas, desde o uso da máscaras até a aplicação de vacinas. Isso é o mais importante: vacinar, vacinar e vacinar”, declarou o parlamentar.
Além deles, o vice-presidente da CPI da pandemia, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou requerimento para convocar o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, para esclarecimentos. Em sua justificativa, o parlamentar argumenta que o evento será uma afronta às mais de 460 mil vidas brasileiras perdidas em decorrência da crise sanitária.
“O Brasil ocupa o segundo lugar do mundo em número de mortes, e está na iminência de uma terceira onda da doença. Diante desse cenário, esta comissão parlamentar de inquérito precisa ouvir o presidente da CBF para saber que medidas foram tomadas para garantir a segurança sanitária dos brasileiros e das delegações estrangeiras durante a realização do evento”, afirmou Randolfe.
Posicionamento dos especialistas
De acordo com o infectologista Nelson Barbosa, a crise sanitária pode trazer altos riscos de transmissão do vírus, caso o evento aconteça.
“Importante lembrar que, mesmo que os jogos não sejam frequentados pelo público, a presença de jogadores de outros países – e do próprio Brasil – pode aumentar a circulação do vírus e a introdução de cepas mais letais que a P.1, a qual temos mais contato atualmente. Neste momento, além da vacinação, o importante é que autoridades reforcem as barreiras sanitárias”, explicou o especialista.
Ainda segundo Barbosa, alguns estados, como o Amazonas, enfrentam o risco de uma terceira onda de infecções pela Covid-19, prevista para um período próximo à realização da Copa América.
“Por conta disso, alguns governantes vêm anunciando a possibilidade de testagem de 10% da população de estados e municípios, mas isso é muito pouco. Todas as pessoas devem ser testadas, e as diagnosticadas devem ser isoladas”, afirmou o profissional, que atua na Fundação de Medicina Tropical (FMT) e no Hospital 28 de Agosto, em Manaus.
Divergência na Aleam
De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM(, apenas em março de 2021, o estado do Amazonas contabilizou mais mortes por coronavírus do que as totalizadas no estado durante o ano de 2020 inteiro.
Entretanto, apesar das críticas à realização da Copa América em período de pandemia, alguns parlamentares a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) defenderam a decisão. É o caso do deputado estadual Delegado Péricles (PSL), favorável ao governo federal.
“O que se vê é uma politicagem para distorcer a decisão e a opinião do presidente. Muitas dessas pessoas estão longe de ter real e genuína preocupação com a saúde da população. Existem hoje, em média, dez campeonatos em andamento no país e nenhum deles foi questionado até o momento, mesmo envolvendo muito mais pessoas. Por que o problema é a Copa América? A revolta é seletiva? A Copa América terá, sem dúvida, ainda mais medidas de cuidado reforçadas, sem oferecer risco aos integrantes das seleções e população”, afirmou o deputado.
Acompanhando os colegas de Congresso, o estadual Álvaro Campelo (Progressista), por outro lado, se declarou contrário à realização do torneio em terras brasileiras.
“Não é o momento para se realizar eventos de grandes proporções, que causem aglomerações, ainda mais quando se cogita uma terceira onda. Além disso, mais recentemente, houve também o surgimento do primeiro caso do ‘fungo negro’ no nosso estado. A prioridade máxima deve ser aumentar o ritmo da vacinação, já que muitos grupos e faixas etárias não foram beneficiadas”, destacou o parlamentar, preocupado com o agravamento de doenças no Amazonas.
Movimentação política
Considerado o principal torneio entre as seleções que compõem o Conmebol, a Copa América determina o campeão da América do Sul. De acordo com a confederação, as datas de início e término do evento já estão confirmadas: 13 de junho e 12 de julho, e a final deve ser realizada no estádio Maracanã, no Rio de Janeiro. Por meio das redes sociais, a Conmebol cumprimentou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pela possibilidade.
“A Conmebol agradece ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, assim como à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por abrir as portas do país ao que, hoje em dia, é o evento esportivo mais seguro do mundo. A América do Sul brilhará no Brasil com todas as suas estrelas”, registrou a entidade.
Em diálogo com apoiadores na saída do Palácio do Planalto, nesta terça-feira (01), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que, no que depender do governo federal, o Brasil sediará o evento latino americano de futebol. Na ocasião, o chefe de estado afirmou que foi consultado pela CBF e dialogou com ministros do governo, e a reunião resultou em uma resposta positiva à realização do torneio no país.
Para o analista político e sociólogo Carlos Santiago, a atuação do presidente demonstra uma controvérsia de prioridades.
“Quando o presidente se mostra favorável a um evento de interesse meramente comercial, isso sinaliza um certo desprezo à ética pública, enquanto ações concretas de combate à pandemia da Covid-19 se encontram em segundo plano. Isso tende a afetar a popularidade de Bolsonaro, tanto na opinião pública quanto no Congresso. Para o chefe de estado, é preferível apostar em eventos e na abertura do comércio não essencial do que na compra de vacinas para a população”, discorreu o estudioso.
Fonte: Em tempo