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Em ritmo acelerado de destruição, Amazônia pode virar uma savana

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Efeitos destrutivos da "savanização" são incalculáveis | Foto: Victor Moriyama/The New York

MANAUS (AM) – Imaginar a paisagem amazônica sem as suas árvores imponentes que tocam o céu e sua vasta fauna diversificada parece ser algo completamente descolado da realidade. No entanto, especialistas têm alertado que a alta taxa de destruição da maior floresta tropical do mundo pode atingir um nível de “não retorno”, a  ponto de transformar o bioma da Amazônia em uma espécie de savana.

 A curto prazo, não há perspectivas no horizonte de uma guinada na atual política ambiental do país. Sob a gestão do Governo Bolsonaro, o Brasil segue alcançado recordes sucessivos de desmatamento da Floresta Amazônica.  

Os efeitos do chamado tipping-point –  momento em que o desmatamento causará tamanho dano que a Amazônia perderá a capacidade de se reflorestar e deixará de ser a maior floresta tropical do planeta para virar uma “extensão” do Cerrado brasileiro, tem um potencial destrutivo incalculável.

Estudos indicam que caso isso ocorra, o Brasil enfrentará, ao longo dos próximos anos, secas cada vez mais prolongadas, temperaturas mais altas e eventos extremos recorrentes que terão um profundo impacto no estilo de vida da sociedade e na forma como o país produz alimento.

De modo geral, os estudos indicam que o clima vai mudar tanto a vida nas cidades grandes quanto a capacidade de produção no campo, colocando em rico o status de gigante global na produção de alimentos ostentado atualmente pelo Brasil.

Segundo o cientista Carlos Nobre, que conjecturou a savanização da Amazônia há 30 anos, em um artigo científico de ampla repercussão, o processo que era apenas uma hipótese está se tornando uma dura e dramática realidade. 

“Este artigo de 1990, da savanização da Amazônia, era uma hipótese naquela época. O desmatamento naquela década era menor, mas se continuasse crescendo provocaria isso que vemos atualmente. Hoje estamos sendo testemunhas desse processo acontecer”, afirma Carlos, que já foi pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordena o Instituto Nacional de Tecnologia para Mudanças Climáticas.

De acordo com o pesquisador, referência em estudos a respeito desse tema no Brasil, a Amazônia já dá sinais claro de tipping-point. 

Por exemplo, a estação seca já está de três a quatro semanas mais longa no Sul e Sudeste da Amazônia. Em áreas desmatadas já é quatro semanas mais longa do que era há quatro décadas. Em áreas de pastagem há uma menor reciclagem de água. Não só recicla menos, como a temperatura na pastagem é entre 1,5°C e 3°C mais quente. Outro estudo tem um dado preocupante”.

Carlos Nobre avalia que os sinais mais claros do esgotamento da Floresta Amazônica ocorrem justamente nas áreas onde o desmatamento ocorre historicamente de forma mais intensa: no Norte do Mato Grosso e Sul do Pará.

“Um estudo recente demonstrou que a própria floresta no Sul da Amazônia recicla menos água. Ou seja, está evaporando menos água. A floresta, em partes do Norte do Mato Grosso e no Sul do Pará já não absorve carbono. Está perdendo a capacidade de absorver gás carbônico da atmosfera. Nesta região, a temperatura na estação seca é 3°C mais quente em comparação à década de 80”, disse o especialista.

Consequências globais

Ainda de acordo com Carlos Nobre, o rápido processo de destruição da Amazônia gerará efeitos sentidos por todo o planeta. 

Na região amazônica, independente do aquecimento global, a savanização aumenta a temperatura local em 1,5 °C a 2,5°C. Se acabarmos com essa floresta, não haverá possibilidade de atenuar o aquecimento global em 1,5°C. Ainda que tenhamos sucesso em reduzir rapidamente as emissões de gases poluentes, não será o suficiente. Além disso, há a previsão do derretimento das geleiras dos Andes”.

O pesquisador destaca que há a necessidade urgente de se reverter a atual conjuntura da política ambiental do país, atrair investimentos globais, para que o quadro atual possa ser revertido.

Desmatamento histórico

  Um monitoramento realizado pela plataforma Terra Brasilis, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontou que de janeiro até o final de julho deste ano, a Amazônia Legal acumulou a maior área desmatada neste período na história do monitoramento.  

A ferramenta reúne alertas e monitora o desmatamento na região da Amazônia desde 2015  sendo que os dados do primeiro semestre começaram a ser computados apenas a partir de 2016.

Fonte: Em tempo

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Mantido por Jhony Souza