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Urina preta’, covid-19 e cheia: família do AM supera três crises

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O casal e os filhos moram em Itacoatiara | Foto: EM TEMPO

Era janeiro de 2021, quando Mário Costa* e Ana Cláudia* procuraram o Hospital Regional José Mendes, em busca de atendimento para a mãe de Mário, uma idosa de 67 anos. Ela estava com covid-19, ficou internada por alguns dias, mas não resistiu à doença. Oito meses depois, o casal voltou ao mesmo posto de saúde, desta vez, era o filho mais novo deles que apresentou sintomas da síndrome de Haff, a doença da “urina preta”, que tem assombrado a população de Itacoatiara.

Enquanto celebravam a passagem de ano, Mário e Ana não imaginavam que o ano de 2021 ficaria marcado por crises sucessivas que se abateriam sobre a família deles.

“Posso dizer que esse ano tem sido uma montanha russa em nossas vidas, perdi a minha mãe para a covid-19 no início do ano, depois veio a cheia que nos obrigou a sair provisoriamente de casa e agora meu filho pegou essa doença [a síndrome de Haff] que ninguém sabe quase nada a respeito, o que importa é que felizmente ele já está bem”, assim começa o relato.

À equipe de reportagem, o casal pediu que fosse identificado com nomes fictícios ao longo da matéria para preservar o filho. Segundo Márcio, que trabalha como marceneiro, o menino começou a sentir os sintomas após comer peixe pirarucu na casa da tia. 

“Outras pessoas também comeram, mas somente ele apresentou os sintomas algumas horas depois do almoço, quando ele voltou para casa. Disse que o corpo tava doendo muito. Quando nós o trouxemos, ele foi ao banheiro e notamos que a urina dele estava bem escurecida” . , descreve a dona de casa Ana Cláudia.

De acordo com o casal, a equipe médica do hospital perguntou de que ele havia se alimentado, e quando tiveram a ciência de que havia sido peixe assado, a possibilidade da criança estar com a síndrome de Haff começou a ser levantada. 

“Ele foi medicado e passou apenas um dia internado, já está bem melhor, graças a Deus. O desconhecimento dessa doença é tão grande, que ouvimos comentários de vizinhos falando como se a doença fosse contagiosa, como se ela fosse transmitida pelo ar. É por isso que estamos fazendo de tudo para poupá-lo de comentários como esse”, disse Ana Cláudia. 

O surto da síndrome de Haff pode estar ligado ao consumo de peixe
O surto da síndrome de Haff pode estar ligado ao consumo de peixe | Foto: Brayan Ricker

Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), já foram notificados 61 casos da doença, sendo 37 casos em Itacoatiara, três em Manaus, um em Autazes, um em Caapiranga, quatro em Silves, quatro em Parintins, quatro em Borba, quatro em Maués, dois em Urucurituba, e um em Manacapuru, além de uma morte em Itacoatiara.  

Duas crises antes da “síndrome de haff”

A morte da mãe de Mário foi outro episódio traumático pelo qual a sua família passou neste ano. O marceneiro conta que a mãe sentiu os primeiros sintomas de covid-19 em meados de janeiro, mas resistiu para procurar atendimento médico. 

“Foi naquela crise maluca do início do ano, ela era muito teimosa, por isso demoramos para trazê-la ao hospital. Primeiro ela começou a se queixar de dores nas costas,  mas disse que não era nada demais. Somente quando ela começou a ter dificuldades para respirar que ela aceitou vir ao hospital, mas não teve jeito e ela acabou falecendo, foi tudo muito rápido”, diz Mário.

O Hospital Regional do município
O Hospital Regional do município | Foto: Ayrton Senna Gazel

Já em abril, quando a família ainda se recuperava da perda da matriarca, Mário e Ana Cláudia precisaram se mudar da casa onde moram, localizada no bairro Janauary, atingido pela cheia histórica do rio Amazonas no município.

O piso da nossa casa ficou completamente inundado, a gente ficou com medo de cobra e outros animais peçonhentos e decidimos nos mudar para a casa do meu cunhado. Foi um momento de dificuldade, mas olhando para trás, acho que esse foi o menos dos nossos problemas. Hoje eu só oro para que a gente tenha um pouco de sossego”, diz a dona de casa Ana Cláudia.

Itacoatiara teve a maior cheia da história em 2021
Itacoatiara teve a maior cheia da história em 2021 | Foto: Reprodução

Em 2021, o nível do rio Amazonas atingiu a cota de 15,20 metros, essa é a maior marca registrada na história do município, ultrapassando o então recorde de 2014, quando o rio bateu 15,05 metros. Na época, as autoridades locais informaram que 32 bairros foram afetados e 1,5 mil famílias foram atingidas pelas cheias históricas. 

*Nome fictício para preservar identidade da família.

Fonte: Em tempo

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