AMAZONAS
Desafios e Esperanças na Conservação do Peixe-Boi da Amazônia
O Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (LMA-Inpa/MCTI) tem desempenhado um papel crucial na reabilitação e conservação do peixe-boi da Amazônia, uma espécie ameaçada de extinção. Recentemente, o laboratório recebeu mais um filhote resgatado no município de Silves, elevando para 52 o número de filhotes acolhidos desde 2020 até junho deste ano. A maioria desses resgates ocorreu em municípios do Baixo Amazonas, destacando a região como um foco crítico para a fiscalização e proteção da espécie.
O veterinário Anselmo d´Affonseca, da empresa Prevet que presta assistência ao Inpa, alerta para a necessidade urgente de intensificar a fiscalização nessas áreas. A cultura de comércio e consumo da carne de peixe-boi ainda persiste no interior do Amazonas, apesar de ser uma prática ilegal. O peixe-boi da Amazônia é protegido por lei desde 1967, mas enfrenta ameaças constantes devido à caça ilegal.
Recentemente, um filhote resgatado em Parintins evidenciou ainda mais a gravidade da situação. Poucos dias após seu resgate, uma fiscalização em uma feira livre na cidade apreendeu 12kg de carne de peixe-boi, indicando um comércio clandestino preocupante.
O Inpa não apenas reabilita esses filhotes para posterior reintrodução na natureza, mas também desempenha um papel importante na conscientização ambiental e na educação pública sobre a importância da preservação dessa espécie. Atualmente, o laboratório mantém 57 indivíduos em tanques em Manaus, com 23 animais em preparação para soltura ainda este ano.
A parceria com a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) tem sido fundamental, resultando na reintrodução de 42 animais na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus até o momento. Essas ações são apoiadas pelo SeaWorld & Busch Gardens Conservation Fund.
No entanto, o aumento no resgate de filhotes nos últimos anos levanta preocupações, especialmente porque muitos desses animais são encontrados sob circunstâncias suspeitas, como supostamente presos em malhadeiras. Há indícios de que tais relatos podem encobrir atividades ilegais de caça e comércio ilegal.
Durante a seca, os peixes-bois migram para áreas mais expostas, tornando-se ainda mais vulneráveis à caça ilegal. A redução dos níveis dos rios durante este período dificulta a fiscalização e aumenta os riscos para a espécie.
Diante desse cenário, é crucial o engajamento da comunidade na denúncia de crimes ambientais. Canais como o Linha Verde do Ibama, números da Polícia Militar do Amazonas e o e-mail do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) estão disponíveis para relatar atividades suspeitas que ameacem a vida selvagem da Amazônia.
A conservação do peixe-boi da Amazônia não é apenas uma questão de proteger uma espécie, mas também de preservar um componente vital do ecossistema amazônico e garantir um futuro sustentável para as gerações futuras.