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POLÍTICA

Nelson Teich diz na CPI da Covid que não tinha autonomia à frente do Ministério da Saúde

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O ex-ministro da Saúde Nelson Teich se esquivou de perguntas assertivas e irritou integrantes da CPI

Brasília – O ex-ministro da Saúde Nelson Teich afirmou que o governo de Jair Bolsonaro não lhe deu a autonomia que julgava necessária para liderar a pasta no combate ao novo coronavírus. Em depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira, 5, porém, o médico evitou atribuir responsabilidade a Bolsonaro pelo agravamento da pandemia no Brasil.

Aos integrantes do colegiado, o médico afirmou que a insistência de Bolsonaro na ampliação do uso da cloroquina contra a Covid-19, sem ouvi-lo, foi determinante para que deixasse a função. Teich substituiu Luiz Henrique Mandetta e ficou no cargo por 29 dias.

“Eu percebi, ao longo daquele período – e eu não precisava de um período longo para perceber isso –, que eu não teria a autonomia necessária para conduzir (o ministério), como eu acreditava que fosse a forma mais correta”, disse o ex-titular da Saúde. “Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina”.

Teich é a segunda testemunha convocada a depor na CPI da Covid, criada para investigar erros e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia no País. O Senado apura se houve crime na conduta de Bolsonaro, que nega a gravidade da doença.  A CPI aprovou ainda convocação do ex-secretário de Comunicação Especial, Fábio Wajngarten, para a próxima terça-feira, 11. Já o ex-chanceler Ernesto Araújo vai depor na quinta, dia 13.

O pedido de demissão de Teich ocorreu após uma sequência de ações de Bolsonaro até a transmissão ao vivo nas redes sociais, em 14 de maio de 2020, na qual ele anunciou a publicação de um protocolo para uso da cloroquina. O remédio é usado contra malária, artrite reumatóide e lúpus, mas não há comprovação científica de que funcione contra o novo coronavírus.

Sem ser consultado e discordando da medida, Teich pediu demissão no dia seguinte. Na semana da “live”, Bolsonaro havia dito a apoiadores, no Palácio da Alvorada, que seus ministros deveriam estar “afinados” com ele e, em uma reunião com empresários, também prometeu flexibilizar a cloroquina.

Para Teich, é um erro receitar o medicamento em razão dos estudos disponíveis, atestando que esse remédio não funciona contra o novo coronavírus. “É um medicamento que tem efeitos colaterais de risco. O problema era a gente não ter ainda dados concretos do benefício, mas, essencialmente, era a preocupação do uso indevido mesmo. Isso é o que eu falei: ‘Não vale para a cloroquina, vale para qualquer medicamento’. Então, ali era muito mais uma discussão de condução do que do remédio especificamente”, disse o ex-ministro à CPI.

Diferentemente do que fez Mandetta, ouvido pela comissão na terça-feira (4), Teich manteve um tom de voz baixo e monótono nas cinco horas e meia de perguntas e respostas. Esquivou-se de várias indagações, apresentando respostas teóricas, e evitou alimentar narrativas de governistas e de opositores.

O comportamento de Teich, que com frequência dizia não se lembrar de determinado fato, não saber ou mesmo não poder opinar sem o amparo de estudos, incomodou integrantes da CPI. “O ex-ministro está levando a comissão… nada objetivo. ‘Não lembro, não me consta’… Eu vou fazer perguntas aqui que, se ele não lembrar, não adianta. Trazer uma pessoa para depor que saiu a cloroquina, que houve intervenção, mas não sabe quem interveio, quem quis, então fica difícil para a gente”, reclamou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, demonstrou contrariedade com um lapso na memória de Teich ao ser perguntado sobre a identidade de um interlocutor do governo com quem discutiu o lançamento da campanha de comunicação para orientar a sociedade. “Exerci um cargo de ministro no século passado. Eu lembro de tudo o que me diz respeito”, disse Renan, que foi ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Questionado sobre a contribuição de Bolsonaro ao agravamento da pandemia, por meio de condutas e declarações, Teich disse ser “muito difícil” calcular esse impacto. “Esse tipo de mensuração tem que ser feito de forma científica. Conseguir projetar a partir de palavras o quanto isso impactou em mortalidade, isso é muito difícil”, argumentou o ex-ministro. “Sem alguma base científica, não teria como responder”.

Teich afirmou que não tinha qualquer influência sobre ordens para produzir ou distribuir a medicação por outras partes do governo. Disse, ainda, que não sofreu pressão direta de Bolsonaro ou de auxiliares dele para ampliar o uso dos remédios.

Senadores governistas buscaram explorar essa separação. Pediram, então, para que o ex-ministro deixasse claro não ter recebido ordens diretas para flexibilização dos protocolos de medicamentos.

O ex-ministro também poupou o general Eduardo Pazuello, que entrou no Ministério da Saúde como secretário executivo da pasta seis dias após sua nomeação. O médico confirmou que a ida de Pazuello para o segundo principal cargo do ministério foi uma indicação pessoal de Bolsonaro. Observou, porém, que ele mesmo refletiu e concordou com a opção. Além disso, destacou que o então secretário trabalhou conforme suas orientações.

A presença de Pazuello na secretaria executiva foi tema de um bloco de perguntas feitas por Renan. Teich disse que o ex-auxiliar desempenhou bem o seu papel e descreveu gestões conjuntas que traçaram para buscar e distribuir respiradores.

“Nós trabalhamos juntos ali, ao longo do período que eu tive. (…) Eu defini as coisas que tinham de ser feitas. A gente conversava sobre como conduzir, e ele ia executando o que eu falava. Na verdade, quem definia era eu. Quem trabalhava a estratégia, quem discutia o que fazer era eu”, afirmou.

Pressionado por Bolsonaro, Pazuello ampliou o uso da cloroquina após assumir a função de ministro interino, substituindo Teich.

Quando Teich foi nomeado para o Ministério da Saúde, em 16 de abril de 2020, o País somava 1.924 mortos pelo novo coronavírus. O ex-ministro deixou a pasta em 15 de maio, no dia em que o Brasil alcançou 14.817 vítimas da covid-19.

Fonte: D24am

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