NACIONAL
Mobilização indígena promete não recuar, apesar da repressão policial
Os cerca de 850 indígenas que estão no acampamento “Levante da Terra”, na Esplanada dos Ministérios, dizem que não vão recuar na mobilização que pede o arquivamento do Projeto de Lei nº 490/2007 apesar das ações de repressão da polícia do Distrito Federal.
Nesta terça-feira (22), os indígenas foram mais uma vez reprimidos em frente ao Anexo IV, da Câmara dos Deputados. Crianças e idosos estavam entre os manifestantes. Dois indígenas foram hospitalizados e outros dez ficaram feridos, segundo informações do movimento indígena.
“Hoje, apesar da ação truculenta da polícia militar, foi mais um dia de mobilização que estamos fazendo em frente à Câmara dos Deputados para barrar o PL 490, que abre licenciamento dentro das áreas indígenas, porém, sem aviso prévio às comunidades. Se aprovado, o projeto estará abrindo as áreas indígenas para o garimpo, madeireiras, para o capitalismo em geral. E quando o capitalismo chega, ele destrói tudo o que encontra pela frente”, declarou Isabel Tucano, coordenadora geral do acampamento “Levante pela Terra”.
A líder indígena ressalta que por conta da tramitação do PL 490, já estão ocorrendo invasões nas áreas indígenas dos mundurucus, ianomâmis na Região Norte do país. “Mas, nós não vamos recuar, enquanto esse governo não parar de estimular as invasões e fazer ataques às populações indígenas”, disse Isabel Tucano ao BNC Amazonas.
Por unanimidade, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram, na última sexta-feira (18), sobre pedido feito pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, a Apib pedia a retirada urgente de invasores, especialmente das terras indígenas dos povos mundurucu, no Pará, e ianomâmi em Roraima. Solicitava também a garantia da integridade física das pessoas ameaçadas nesses locais.
Reação às agressões
A deputada federal indígena, Joênia Wapichana (Rede-RR), que no momento dos ataques se posicionou entre os policiais e o protesto para negociar o fim da repressão, reagiu à ação da PMDF.
“Estou angustiada porque muitos companheiros foram feridos. Nós vamos trabalhar para esse projeto não voltar para a pauta. Não estamos lutando por coisas novas, mas por direitos assegurados na Constituição Federal”, declarou a parlamentar.
Joênia Wapichana informou que os parlamentares oposicionistas vão lançar mão de todos os instrumentos disponíveis no Regimento da Câmara para impedir a votação.
Votação do PL 490
A pedido da Polícia Legislativa da Câmara, a presidente da CCJ, deputada Bia Kicis (PSL-DF), informou que suspendeu a reunião desta terça-feira por conta dos confrontos. Mas, avisou que o colegiado terá reunião amanhã (quarta-feira, 23) novamente. O PL 490 deve estar entre os primeiros itens de pauta.
Bia Kicis publicou um vídeo em seu canal no Twitter acusando os indígenas de “flechar” os policiais, mas não há evidência disso no filme.
Apoio logístico ao acampamento
O acampamento “Levante da Terra” está instalado ao lado do Teatro Nacional de Brasília, há três semanas. Os cerca de 850 indígenas que participam da mobilização, de 48 povos diferentes de todas as regiões do Brasil, estão todos vacinados e seguindo os protocolos sanitários (distanciamento, uso de máscara e higienização constante das mãos).
A militância política e social tem dado o apoio logístico aos indígenas. Membros do Partido dos Trabalhadores (PT), associação de mulheres, do meio ambiente e a comunidade de Brasília em geral têm contribuído com cestas básicas, água, cobertores e até gás de cozinha.
“Estamos mobilizando toda a comunidade a ajudar os nossos irmãos indígenas que estão em Brasília reivindicando os seus direitos, lutando contra as ações destruidoras desse governo genocida”, diz a servidora pública aposentada, Glacelane Moraes.
Há quase três semanas, a militante petista tem ido diariamente ao acampamento levar os mantimentos doados pelas pessoas que ela consegue arregimentar pelas redes sociais.
Fonte: BNC