AMAZONAS
Água do Rio Negro não é própria para consumo, aponta estudo pioneiro realizado pela UEA
Apesar disso, uso da água do Rio Negro para banho ainda é considerado aceitável. Dados fazem parte de estudo realizado durante a 4ª expedição do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas
A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) apresentou nesta quarta-feira (13) os primeiros resultados de um estudo pioneiro sobre a qualidade da água do rio Negro. Os estudos foram feitos durante a quarta expedição do Programa de Monitoramento de Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM), que, entre os resultados, trouxe o desenvolvimento de um índice de qualidade da água que avalia tanto as características naturais do rio quanto o impacto da presença humana.
A quarta expedição da campanha de monitoramento da qualidade das águas aconteceu no mês de setembro deste ano. A viagem foi feita a bordo do barco “Roberto Santos Vieira”, que, durante 10 dias, transportou uma equipe de 13 pesquisadores da UEA e sete tripulantes em diferentes trechos da bacia do rio Negro.
O coordenador do programa, Prof. Dr. Sergio Duvoisin Junior, explicou que, durante a expedição, a equipe de pesquisadores estabeleceu 66 pontos de monitoramento ao longo do rio Negro, todos georreferenciados, para analisar a qualidade da água em diferentes trechos. Nesta última campanha, foram coletados dados de 36 desses pontos, incluindo uma análise detalhada de 164 parâmetros, que vão desde o pH da água até a presença de metais e coliformes.
Nesta análise, segundo Duvoisin, o destaque vai para a presença de coliformes tolerantes em praticamente todos os pontos monitorados, o que indica que a água do rio Negro, em grande parte, não é adequada para consumo. Ele ressaltou, porém, que para banho os níveis ainda são aceitáveis, visto que apenas altos níveis de coliformes apresentam riscos para o contato humano.”Ainda que a água seja segura para banho, esses níveis mostram o impacto de atividades humanas sobre a qualidade das bacias, especialmente em regiões próximas a áreas urbanas como Manaus e Barcelos, por exemplo (pontos que apresentaram uma queda no índice de qualidade da água durante as análises)”, comentou o coordenador do estudo.
Duvoisin destacou que, em Manaus, o grupo de estudos também monitora as bacias do Tarumã Mirim, Tarumã Açu, São Raimundo, Educandos e Puraquequara. Os resultados, segundo ele, chamam a atenção para São Raimundo e Educandos, que apresentam os piores índices de qualidade de água devido ao despejo de esgoto e outras atividades urbanas.“Dá uma tristeza de ver essas bacias. Para contato humano, a gente tem que ter abaixo de mil coliformes, e nós temos pontos na bacia do Mindu que chegam a 3,5 milhões de coliformes. Então, se você chegar perto, já está correndo risco porque tem uma quantidade muito grande”, disse Duvoisin, reforçando que, com vontade política e recursos, ainda é possível reverter esse quadro de degradação ambiental.
O coordenador da pesquisa destacou ainda que os dados fornecidos por esse estudo são uma ferramenta poderosa para os gestores públicos, que precisam usá-la para implementar ações de recuperação dessas bacias. Afinal, conforme ele destacou na apresentação dos resultados do estudo, “não se protege aquilo que não se conhece”.“Qualquer bacia a gente consegue recuperar, desde que se tenha vontade e recurso para isso. A bacia do São Raimundo e a do Educandos são duas bacias extremamente impactadas. Se a gente fizer ações de gestão dessas bacias, baseadas em dados técnicos como os que estamos disponibilizando, temos condições de recuperá-las sem problemas. Ainda mais com o regime de água que temos aqui no Amazonas, há uma lavagem muito grande nessas bacias”, disse.
Durante a expedição, também foi possível comparar os níveis de pH entre o rio Negro, naturalmente ácido, e outras regiões como o rio Branco, que possui pH mais próximo do neutro, evidenciando variações significativas entre as bacias amazônicas.
Quanto à presença de metais no rio, como o mercúrio, o coordenador da pesquisa explicou que a equipe não identificou a presença desse material na bacia do rio Negro, ressaltando, porém, que os equipamentos utilizados não tinham sensibilidade suficiente para a detecção. Uma análise mais precisa sobre essa questão será realizada no próximo ano, através de uma parceria internacional com a Universidade de Harvard, anunciada também nesta quarta-feira.
Segundo Duvoisin, essa nova parceria envolverá tanto alunos da UEA quanto de Harvard, promovendo o intercâmbio de conhecimento e o avanço do monitoramento de metais pesados na região. A Universidade de Harvard será responsável por trazer equipamentos de alta sensibilidade para o monitoramento do mercúrio, um contaminante que preocupa por conta das atividades de garimpo ilegal frequentes na região e que pode ter graves efeitos ambientais e na saúde humana.
Fonte: A Crítica