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O Retorno Incerto à Área Evacuada em Macacos e os Impactos do Rompimento da Barragem B3/B4

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Em fevereiro de 2019, a comunidade de Macacos, no município de Nova Lima (MG), foi forçada a evacuar suas casas devido ao risco de rompimento da barragem B3/B4 da Mina de Mar Azul. Quase 300 pessoas foram retiradas de suas residências em um processo apressado, e desde então, a área permanece deserta, com a Vale adquirindo a maioria dos imóveis da região.

Situação Atual e Desafios

Embora a Vale tenha anunciado a conclusão das obras de eliminação da barragem em maio de 2024, a situação da área evacuada continua a ser um ponto de preocupação. Fernanda Tuna, moradora de Macacos e integrante da Comissão Macacos, relata que, apesar da eliminação do risco imediato, a comunidade não demonstra interesse em retornar. A área é descrita como uma “zona fantasma”, e as famílias ainda não foram incentivadas a retornar devido a preocupações contínuas e a falta de confiança na segurança das barragens restantes ao redor.

Fernanda destacou que a Vale adquiriu muitos imóveis na área evacuada, mas muitos desses imóveis estão fechados e não são devidamente mantidos, levantando preocupações sobre a saúde pública e a segurança. Além disso, a presença da mineradora no mercado imobiliário local impactou a disponibilidade e o preço dos imóveis em Macacos, tornando mais difícil para os residentes encontrarem casas para alugar.

Segurança das Barragens e Preocupações Climáticas

A Vale reconhece que a mancha de inundação da B3/B4 coincide com as áreas de outras barragens próximas, como Taquaras, Capão da Serra, B6, B7 e 5 Mutuca. No entanto, a mineradora assegura que essas estruturas foram construídas pelo método a jusante, considerado mais seguro. Fernanda, por sua vez, expressa dúvidas sobre a segurança dessas barragens, citando mudanças climáticas e padrões de chuvas extremas como fatores de risco.

O engenheiro Júlio César Dutra Grillo alerta para a inadequação dos padrões de segurança das barragens frente aos eventos climáticos extremos recentes. Ele ressalta que as chuvas intensas podem sobrecarregar a capacidade das barragens, colocando as comunidades em risco.

Remoções e Processos de Reparação

A barragem B3/B4 era uma das 30 estruturas da Vale que precisavam ser eliminadas por determinação legal após os desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Esses eventos levaram a uma ofensiva fiscalizatória para garantir a segurança das barragens e a remoção de moradores das áreas de risco.

Em Macacos, a evacuação não só afetou os moradores diretamente, mas também prejudicou a economia local, especialmente o setor de turismo, que sofreu com o cancelamento de reservas em pousadas e hotéis. A Vale se comprometeu a reparar os danos por meio de um acordo de R$ 380 milhões para programas de transferência de renda, requalificação do comércio e turismo, e fortalecimento do serviço público municipal.

No entanto, a Comissão Macacos critica a implementação desses acordos, afirmando que muitos compromissos não foram cumpridos ou foram apenas parcialmente executados. A falta de reparação coletiva e a ausência de participação da comunidade nas decisões são pontos de insatisfação.

Conclusão e Perspectivas Futuras

Embora a Vale tenha declarado que a barragem B3/B4 não representa mais risco, a comunidade de Macacos continua a enfrentar desafios significativos relacionados à segurança, ao impacto econômico e à reparação dos danos. A situação evidencia a complexidade dos processos de reparação e a necessidade de uma abordagem mais eficaz e inclusiva para lidar com as consequências de desastres minerários e suas implicações para as comunidades afetadas.

A comunidade de Macacos, através da Comissão Macacos e outras organizações locais, continua a pressionar por uma reparação justa e pelo cumprimento dos compromissos assumidos pela Vale, buscando garantir que as lições dos desastres passados resultem em medidas concretas e eficazes para a proteção das pessoas e do meio ambiente.

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