Violência Doméstica Contra Mulheres Atinge Números Alarmantes em 2023

No ano de 2023, um triste cenário de violência doméstica assolou o país, com pelo menos oito mulheres se tornando vítimas a cada 24 horas. Esses dados, provenientes de oito dos nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança (BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP), foram revelados no novo boletim intitulado “Elas Vivem: Liberdade de Ser e Viver”, divulgado nesta quinta-feira (7).

O relatório chocante revela que foram registradas 3.181 mulheres vítimas de violência, marcando um aumento significativo de 22,04% em relação ao ano anterior. Este aumento é ainda mais alarmante considerando que Pará e Amazonas só foram incluídos no monitoramento recentemente.

A variedade de abusos sofridos pelas vítimas é perturbadora, incluindo ameaças, agressões, torturas, ofensas, assédio e, mais tristemente, feminicídios. Os dados apontam para 586 vítimas de feminicídios, o que significa que, em média, uma mulher foi morta a cada 15 horas devido ao seu gênero. Em sua maioria, esses crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros (72,7%), utilizando armas brancas (em 38,12% dos casos) ou armas de fogo (23,75%).

“A mobilização contra o feminicídio e outras formas de violência salva vidas. Nós já perdemos mulheres demais, e ainda perderemos. É a denúncia incansável que preservará a vida de tantas outras”, enfatiza a jornalista Isabela Reis, autora do principal texto desta edição do relatório.

A ampliação da área de monitoramento trouxe à luz a situação preocupante em regiões anteriormente não incluídas. O Pará, pela primeira vez no radar, ocupa a quinta posição no ranking entre os oito estados, com 224 eventos de violência contra mulheres. O relatório destaca as desigualdades sociais e as atividades de garimpo na Região Amazônica como fatores que agravam essas dinâmicas violentas.

Ao comparar os dados de 2023 com os do ano anterior, observa-se que São Paulo é o único estado a ultrapassar mil eventos de violência, registrando um aumento de 20,38%. O Rio de Janeiro segue em segundo lugar, com um aumento de 13,94%. No entanto, o estado do Piauí, apesar de ter menos casos em números absolutos, registrou o maior crescimento percentual, com quase 80% de alta em um ano.

No Nordeste, Pernambuco registrou 319 casos de violência, com 92 feminicídios. A Bahia lidera em número de mortes de mulheres (199), o Ceará é o estado com o maior registro de transfeminicídios (7), e o Maranhão lidera os crimes de violência sexual/estupro, com 40 ocorrências.

A metodologia utilizada para coletar esses dados envolve um monitoramento diário das informações disponíveis nas mídias sobre violência e segurança. Essas informações são compiladas, confrontadas e registradas em um banco de dados revisado e consolidado posteriormente. Esse método permite identificar crimes que não são tipificados pela polícia, como violência contra mulheres, contribuindo para uma análise mais precisa e completa da realidade, além de combater a subnotificação comum a esses casos.